sábado, 28 de maio de 2011

JÁ ESTÁ,...ATUNS

Mais um sonho realizado.
Tenho pautado a minha vida, por etapas, e por alcançar objectivos. Este conseguido agora, era um daqueles que já não sabia a idade.
Mas sempre que falávamos de pescas e de atuns lá vinha ele à baila.
Domingo de Pascoa, pelas 06 horas da manhã a embarcação Goreti Perinho, largava o Cais de Pesca de Vila do Porto, rumo ao… Atuns.
A bordo “o filho macho, mais novo, de meu pai”; EU.
Na ponte, Mestre Eduíno  e Jardel,  o irmão e olheiro do barco.
No poço, Bélé , Darinho, e Patacão, preparavam as amostras, os saltos  e as varas. A “tina” e “engodar” ficava a cargo do mais jovem pescador da família Perinho, o César.
O mar "direito como uma estrada". O barulho do motor entoava aquele cântico monótono que ao  longo de uma manhã provoca sono. Só alterado de tempos a tempo quando Jardel pelos binóculos  avistava a passarada e mestre Eduíno lá dava aquela “acelaradela” até às 3000 rotações. O gasóleo tá caro!
Toninhas!  Golfinhos aos montes! Meia dúzia de palavras pouco abonatórias para as coitadas e lá voltava o Goreti Perinho ao ronronar da meia marcha.
Com o sol a bater na cara e a aquecer os oleados e o  mar tão calmo que nem o barco adornava, reinava uma tranquilidade e uma paz que parecia um barco fantasma deslizando na água. "Hora morta de peixe hora viva de sono".
Foi assim toda a manhã.
Já vínhamos rumo ao cais, quando Bélé que trazia a linha na mão gritou: Pára! Pára! Páaara!!
  Em três tempos e antes que  se consiga ler esta palavra correctamente ”anticonstanticionalissimamente”  já estavam na água, dois saltos a chuva ligada e o primeiro grande Atum e entrar dentro do barco.
Só tive tempo de tirar duas fotos.
 
Os  berros de “são grandes !;... é peixe grado!...; dá iscas!…; ajuda aqui!..., mais um pucheiro!...;comeu ali!... iih grande lombo!...;  Cuidado!..transmitiam  a enorme carga de adrenalina que corria nas veias de todos,  ao mesmo tempo que alertava para o perigo. 
É peixe grado. Cuidado!.
O mar “abria-se” sempre que  aqueles enormes dorsos pretos rompiam à superfície para comerem os chicharritos que o César atirava ao mar.  Metia respeito!. Cada vez que um peixe pegava na isca era uma luta desigual entre a força bruta da natureza e a força da união de 3 ou 4 homens. . E eu lá. Bem no meio da “Guerra”.
Fiz o que pude para estar à altura e gozar ao máximo a oportunidade. Era como os jogadores de futebol que querem agarrar a titularidade .
Tive o prazer de sentir o trancar de um peixe daqueles no salto: (o maior de todos eheh evidentemente ou não fosse eu pescador). Parece que o impacte "arranca" os braços do tronco. Sente-se a força nos músculos dos ombros. E o peixe, diziam eles, até estava a pegar mansinho! Não era aquele peixe bruto.

 Ficou registado na minha mente para memórias futuras,  os "nervos" para meter o pucheiro num monstro daqueles?!... O arrastar 100kg borda acima?... O Sangue nas mãos, na cara, na roupa...;  O prazer de ver um bicho daqueles, "vivinho da silva" passar por cima da gente para ficar dentro do barco!... A tensão com que se "vive"  cada passo,  cada momento; ...O trabalho de equipe...

Foi fabuloso. Valeu mesmo.
Outras peripécias se passaram, como a de virem roubar o nosso peixe da borda”. A guerra de palavras de barco para barco. A matreirice de proteger o peixe que está  comendo dando sempre o outro bordo. Enfim coisas que só os anos podem ensinar; e que só lá estando e vivendo aquilo dia a dia se pode aprender e/ou até compreender.
Neste dia tive tudo. Apanhei um peixe à linha de mão, estive no salto, na vara e no pucheiro.
Agora percebo, como aquela "pesca" magoe tanta gente. É mesmo fácil. Basta uma pequena distracção ou uma pequena falha para as coisas acontecerem. A linha de separação entre a segurança e o perigo é muito ténue. Está ali tal qual o fósforo para acendalha.
Mas mesmo assim...!  Foi fantástico. E... Quero voltar!  Aliás, Vou voltar!.
Obrigado ao Mestre Eduíno e sua Companha.
 Votos de boas Pescas.
(Depois desta, só  a pesca do caranguejo no mar de Bering.)







Quem é o actor de Barreta vermelha???? Quem é ????



sábado, 7 de maio de 2011

Uma e a Outra

Era uma vez duas irmãs, a Uma e a Outra. Filhas do mesmo pai, mas de mães diferentes.

Moram na mesma baía. São vizinhas de porta. Mesmo em frente uma da outra.

Ambas receberam do pai os financiamentos para a sua formação e foram educadas com os mesmos princípios. Servir o bem público.

A Uma é corpulenta e forte. A Outra é mais fraca, mais frágil, é mais …“menina”.

A Uma, a mais velha, cresceu com a mentalidade da mãe, “… o Governo que pague” e está sempre a exigir do pai, ajuda e atenção.

A Outra, por influência da mãe, acredita noutros valores. Para a ela a economia de mercado, e os princípios economicistas do tipo “utilizador/pagador”, são a base de uma sociedade mais justa. Contudo perdeu-se no fundamentalismo do lucro a todo custo, do lucro fácil.

Segundo a Uma, a irmã a Outra, é menina fina! Claro!... reside na zona nobre da Baía e só serve os Senhores Doutores, os Senhores do Dinheiro, os Ricos. Mas mal sabe ela é que estes “senhores”, a maioria, são aqueles que vivem dos seus ordenados e do seu trabalho. Não são todos “controladores”, e  só têm em comum, não poderem fugir ao fisco!

Já a Uma, para a Outra, é uma fingida! Uma traiçoeira. Está sempre a lamentar-se e a chorar nos braços da mãe para que esta lhe ajude e interceda junto do pai. Só quer mamar!. E quanto mais mama mais quer. Se for preciso ir para a rua gritar, vai, não tem vergonha.
Aliás, a Outra costuma dizer que a Irmã,  a Uma, "não quer  é nada no castanho”. Trabalhar que é bom não é para ela. Basta só ver as vezes que  levanta ou baixa um barco. Se não fosse a “chatinha” do Marinho Maçaroco, contava-se nos dedos de uma mão os dias de trabalho.

Mas o que irrita mesmo a Outra, é que a Uma quando quer mesmo alguma coisa consegue.

Vai a S. Miguel , com "pézinhos de lã", pela calada, senta-se no colo do pai e como aquele “arzinho” de infeliz, de “pobrezinha”, de “cabra mal enjeitada” convence toda a gente. Até parece que o Pai tem medo dela. Imaginem só que já conseguiu espaço para operar na rua da Outra. Vejam lá onde já vamos!

O que a Outra não sabe é que a Uma, também tem uma vida dura, mesmo com aqueles apoios todos, a vida não lhe é fácil. Do que tráz e faz, a maior parte é para dar de "comer" aos grandes "donos" do que dá  o mar.
Tal, como todos os que produzem neste país, a Uma está nas mãos de quem compra e vende.

Está subvertida a ordem das coisas. Quem ganha não é quem produz, mas sim quem comercializa.

Por isso quando vou ao cais, naqueles dias de mau tempo ou nas calmarias dos fins de tarde, consigo ouvir no ar os gritos em surdina, dum lado: - Paga que podes!; Ganhas bem!; És rica, o que são 93€ pra ti… , e do outro :- Fingida; Oportunista; Subsídio-dependente; Esta mama vai acabar, agora com a Troika…

O que as duas não sabem nem querem saber é que no fundo, quem paga tudo isso somos todos nós.

Por isso quando os recursos não abundam temos que os gerir bem. Devemos isso aos nosso filhos.

E… duas gruas, e duas bombas de combustível, e duas áreas e dois chefes… e duas mais não sei o quê, e vedações, e portões e cancelas, e cartões...Ali é dinheiro mal gasto?! Disso não tenho dúvidas.
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