Mais um sonho realizado.
Tenho pautado a minha vida, por etapas, e por alcançar objectivos. Este conseguido agora, era um daqueles que já não sabia a idade.
Mas sempre que falávamos de pescas e de atuns lá vinha ele à baila.
Domingo de Pascoa, pelas 06 horas da manhã a embarcação Goreti Perinho, largava o Cais de Pesca de Vila do Porto, rumo ao… Atuns.
A bordo “o filho macho, mais novo, de meu pai”; EU.
Na ponte, Mestre Eduíno e Jardel, o irmão e olheiro do barco.
No poço, Bélé , Darinho, e Patacão, preparavam as amostras, os saltos e as varas. A “tina” e “engodar” ficava a cargo do mais jovem pescador da família Perinho, o César.
O mar "direito como uma estrada". O barulho do motor entoava aquele cântico monótono que ao longo de uma manhã provoca sono. Só alterado de tempos a tempo quando Jardel pelos binóculos avistava a passarada e mestre Eduíno lá dava aquela “acelaradela” até às 3000 rotações. O gasóleo tá caro!
Toninhas! Golfinhos aos montes! Meia dúzia de palavras pouco abonatórias para as coitadas e lá voltava o Goreti Perinho ao ronronar da meia marcha.
Com o sol a bater na cara e a aquecer os oleados e o mar tão calmo que nem o barco adornava, reinava uma tranquilidade e uma paz que parecia um barco fantasma deslizando na água. "Hora morta de peixe hora viva de sono".
Foi assim toda a manhã.
Já vínhamos rumo ao cais, quando Bélé que trazia a linha na mão gritou: Pára! Pára! Páaara!!
Em três tempos e antes que se consiga ler esta palavra correctamente ”anticonstanticionalissimamente” já estavam na água, dois saltos a chuva ligada e o primeiro grande Atum e entrar dentro do barco.
Só tive tempo de tirar duas fotos.
Os berros de “são grandes !;... é peixe grado!...; dá iscas!…; ajuda aqui!..., mais um pucheiro!...;comeu ali!... iih grande lombo!...; Cuidado!..transmitiam a enorme carga de adrenalina que corria nas veias de todos, ao mesmo tempo que alertava para o perigo.
É peixe grado. Cuidado!.
O mar “abria-se” sempre que aqueles enormes dorsos pretos rompiam à superfície para comerem os chicharritos que o César atirava ao mar. Metia respeito!. Cada vez que um peixe pegava na isca era uma luta desigual entre a força bruta da natureza e a força da união de 3 ou 4 homens. . E eu lá. Bem no meio da “Guerra”.
Fiz o que pude para estar à altura e gozar ao máximo a oportunidade. Era como os jogadores de futebol que querem agarrar a titularidade .
Tive o prazer de sentir o trancar de um peixe daqueles no salto: (o maior de todos eheh evidentemente ou não fosse eu pescador). Parece que o impacte "arranca" os braços do tronco. Sente-se a força nos músculos dos ombros. E o peixe, diziam eles, até estava a pegar mansinho! Não era aquele peixe bruto.
Ficou registado na minha mente para memórias futuras, os "nervos" para meter o pucheiro num monstro daqueles?!... O arrastar 100kg borda acima?... O Sangue nas mãos, na cara, na roupa...; O prazer de ver um bicho daqueles, "vivinho da silva" passar por cima da gente para ficar dentro do barco!... A tensão com que se "vive" cada passo, cada momento; ...O trabalho de equipe...
Foi fabuloso. Valeu mesmo.
Outras peripécias se passaram, como a de virem “roubar o nosso peixe da borda”. A guerra de palavras de barco para barco. A matreirice de proteger o peixe que está comendo dando sempre o outro bordo. Enfim coisas que só os anos podem ensinar; e que só lá estando e vivendo aquilo dia a dia se pode aprender e/ou até compreender.
Neste dia tive tudo. Apanhei um peixe à linha de mão, estive no salto, na vara e no pucheiro.
Agora percebo, como aquela "pesca" magoe tanta gente. É mesmo fácil. Basta uma pequena distracção ou uma pequena falha para as coisas acontecerem. A linha de separação entre a segurança e o perigo é muito ténue. Está ali tal qual o fósforo para acendalha.
Mas mesmo assim...! Foi fantástico. E... Quero voltar! Aliás, Vou voltar!.
Obrigado ao Mestre Eduíno e sua Companha.
Votos de boas Pescas.
(Depois desta, só a pesca do caranguejo no mar de Bering.)
Quem é o actor de Barreta vermelha???? Quem é ????